Light entra com pedido de recuperação judicial de R$ 11 bilhões; entenda o caso
Notícia veiculada por G1 em 12/05/2023 e disponível em https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/05/12/light-entra-com-pedido-de-recuperacao-judicial-com-divida-de-r-11-bilhoes.ghtml
Empresa sofre
com prejuízos causados, principalmente, pelos altos níveis de furtos de energia
no Rio de Janeiro.
Por Bruna
Miato, g1
A Light S.A.,
controladora do Grupo Light, entrou com um pedido de recuperação judicial na 3ª
Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, com uma
dívida estimada em R$ 11 bilhões.
O pedido foi feito em caráter de urgência
porque, segundo documento emitido pela empresa, "os desafios oriundos da
atual situação econômico-financeira da Companhia e algumas de suas subsidiárias
se mantêm e vêm se agravando".
Rodrigo Cotta,
um dos advogados atuantes no caso, afirma que as partes envolvidas no pedido
estão "convictas de que, com a recuperação judicial, o Grupo Light vai
equalizar seu passivo financeiro", ou seja, sanará suas dívidas.
O advogado
destaca que:
- ·
a crise da Light, que se agravou nos últimos
anos, decorre sobretudo dos altos índices de furtos de energia no Rio de
Janeiro;
- ·
a redução do consumo de energia elétrica, os
impactos da lei que determina a devolução de créditos tributários e a pandemia
da covid-19 também contribuíram para o agravamento da crise;
- ·
com a recuperação Judicial, a prestação do
serviço público da Light será mantida.
Por conta da
recuperação, a B3, bolsa de valores de São Paulo, informou nesta sexta-feira
(12), que as ações da Light serão excluídas de todos os índices da empresa a
partir da próxima segunda (15). Os papéis da companhia de energia despencam
cerca de 20% neste pregão.
O que está
acontecendo com a Light?
O maior
problema enfrentado pela Light atualmente é a distribuição de energia. Esse
segmento, de acordo com análise de Camilla Dolle, Mayara Rodrigues e Natalia
Moura, da XP Investimentos, é o mais relevante da companhia.
Em
contrapartida, a empresa vem sofrendo, cada vez mais, com os furtos de luz no
Rio de Janeiro, o que reduz a arrecadação e gera prejuízos financeiros.
"Devido às
complexidades socioeconômicas do Rio de Janeiro, há um alto nível de perdas de
energia na área de concessão da Light, que é uma das mais difíceis do país em
termos operacionais, resultantes principalmente do elevado furto de
energia", destacam as analistas.
A análise
pontua ainda que a Light vem testando diferentes modelos de combate às perdas
causadas pelos furtos nos últimos anos. Mas, apesar de uma leve melhora nos
indicadores após a adoção de medidores mais modernos, os números de gatos ainda
estão fora do padrão estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel).
"Quando
uma distribuidora de energia falha em atingir os níveis regulatórios, há
penalidades aplicadas sobre as tarifas", explicam as especialistas.
Além dos
prejuízos financeiros com os furtos, a Light também teve sua receita impactada
por conta de uma decisão da Aneel, que determinou que a companhia devolvesse
créditos fiscais relacionados à cobrança indevida de PIS/COFINS dos clientes.
As analistas da
XP explicam que, com a decisão, em 2021 a empresa teve de devolver R$ 374,2
milhões em descontos nas tarifas, e outros R$ 1,05 bilhão em 2022. Há
expectativas de que mais um valor alto seja devolvido neste ano, piorando a
situação financeira da Light.
Empresa diz que
serviços não serão impactados:
No pedido de
recuperação judicial, a empresa afirma que pretende equacionar o endividamento
financeiro do conglomerado, mas que não há nenhuma tentativa de se afastar de
suas obrigações com a população no que diz respeito à prestação dos serviços de
energia.
"Assim,
significa dizer: em hipótese alguma a empresa se distanciará de observar, com a
absoluta responsabilidade, a missão primordial que deve desempenhar", diz
o documento.
Segundo a
Light, a decisão pela necessidade da recuperação judicial como forma de sanar
suas dívidas se deve ao fato de que pouquíssimos credores, mas de
"altíssima belicosidade", terem estabelecido que as negociações só
serão realizadas via mediação.
O pedido foi
apresentado por meio dos escritórios Salomão Kaiuca Abrahão Raposo e Cotta
Advogados e Galdino&Coelho Pimenta Takemi e Ayoubi Advogados.
A situação dos
furtos de energia no Rio:
O problema de
furtos de energia no Rio de Janeiro, porém, não atinge apenas a empresa, mas
também os clientes. Segundo um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
feito em 2022 a pedido do RJ2, cerca de 10% do valor das contas de luz no Rio
são para ressarcir a Light dos gatos feitos por outras pessoas.
No ano passado,
a Aneel autorizou que a distribuidora de energia repasse até 40% das perdas com
os furtos aos consumidores nas contas de luz.
Além disso, a
situação também passa pela violência e o domínio do crime organizado.
Moradores de
comunidades cariocas contaram ao g1 RJ que a população é obrigada a fazer gatos
nos postes e pagar traficantes ou milicianos pela energia.
As empresas da
Light:
A empresa de
energia elétrica afirma que avalia alternativas e vem "empreendendo
esforços", com o auxílio de assessores financeiros e legais, para resolver
as suas obrigações financeiras, bem como a de outras companhias pelas quais é
responsável.
O Grupo Light é
composto por:
Light Serviços
de Eletricidade (Light SESA), que atua na distribuição de energia;
Light Energia,
que atua na geração de energia;
LightCom, que
atua na comercialização de energia;
Além do grupo,
a Light S.A. também é controladora em conjunto na Amazônia Energia
Participações, empresa criada para participação no projeto da usina
hidrelétrica de Belo Monte, e na Axxiom Soluções Tecnológicas, companhia que
oferece serviços na área de tecnologia da informação.
Fonte: G1